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Acompanho com o detalhe e rigor possível, através de vários canais, muito apertados, abertos pelos ‘’media’’, o desenvolver do caso, nunca antes visto, dos papéis do Panamá, uma espécie de balão para os parolos se pasmarem. ‘’Ó parolo! Olh’ó balão!’’

Percorro, em itinerário e orientação de retorno ao útero, a minha memória estreita de papalvo da aldeia. E não vejo nada de novo nos papéis do Panamá senão o critério de selecção dos nomes dos ricos. São todos vermelhos e socialistas ou cúmplices deles. A Mossak & Fonseca recorria a critérios muito rigorosos de selecção dos seus clientes, ou eram socialistas ou tinham negócios ilícitos com eles. Se não fossem socialistas, que fossem, pelo menos, pretos.

De resto, os papéis do Panamá são mais velhos do que eu. Eu nasci em 1950. Durante toda a minha vida, sempre que ouvia falar num rico ou em alguém que fora, por vezes inesperadamente, bafejado pela fortuna, dizia-se que tinha uma conta na Suíça. Ninguém acreditava em artola algum que quisesse fazer papel e vida de rico e não tivesse uma conta na Suíça. Ainda não existiam tugaleaks e ninguém podia constatar documentadamente que alguém tinha uma conta na Suíça, mas se alguém tinha dinheiro era porque tinha uma conta na Suíça.

Os Melo tinham contas na Suíça. O Senhor Almirante tinha contas na Suíça. Os médicos, os advogados, os coronéis, os lentes, os presidentes da câmara, os regedores. A quem saía a lotaria convinha abrir uma conta na Suíça, mesmo que guardasse o dinheiro debaixo do tabuado do soalho.
Os industriais, os guarda livros. Todos tinham contas na Suíça.

Se os ricos não tivessem contas na Suíça, o Salazar roubava-os. E ficava muito bem e dava muito sainete ter uma conta na Suíça, o modelo da civilização, da liberdade e da cidadania.

Quando veio e estourou o vinte e cinco de Abril, os ricos tinham todos contas na Suíça. Por isso puderam fugir para o Brasil.

De seguida, a única forma de garantir a segurança do dinheiro e evitar que os capitães o sacassem era de novo ter uma conta na Suíça. Os retornados traziam uns diamantes de Angola, ou um marfim, abriam uma conta na Suíça. Foi um corrupio então de cá para a Suíça e da Suíça para cá.

Só em 2008, quando estourou o BPN, se começou a falar das ilhas caimões e outros paraísos. Até então o que valia era a Suíça.

Passaram oito anos sobre o estouro do BPN. E só agora vêm com os papéis do Panamá. E são todos comunistas ou vivem à custa do comunismo.

Eu não enxergo nada de novo no Panamá a não ser o José Sócrates.

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