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Porque razão não é conveniente resguardar o segredo de justiça, ou simplesmente o segredo de Estado?

 

 Francisco Nogueira Leite acaba de anunciar que a Christie’s venceu o concurso público restrito, para o qual foram seleccionadas quatro leiloeiras, e vai apresentar em leilão as 85 obras de Juan Miro que alegadamente pertenceriam ao BPN, mas que se sabe agora que não, que pertencem, ou pertenciam a quatro ‘’off shores’’ associadas, de alguma obscura forma, à SLN que não conseguia, desde há uns anos, encontrar os paradeiros dos seus responsáveis financeiros.

 

A leiloeira estima agora que poder vir a realizar cerca de trinta e seis milhões de Euros com a venda da colecção, menos de metade do valor em que a avaliou em 2008, oitenta milhões de Euros.

 

Na verdade, ninguém consegue encontrar uma linha de orientação se quiser analisar e alcançar uma compreensão esquemática desta trapalhada.

 

Os responsáveis, quer das entidades criadas para administrarem passivos e activos, quer o Estado, quer as entidades judiciais que investigam a matéria criminal envolvida, ou outras, vão deixando escorregar periodicamente umas novidades do rol que aparentemente pretendem manter em segredo, de justiça ou de Estado, que só se revelam para tornar a matéria mais contraditória, inacessível e virtual.

 

Em nosso entender, ninguém, nem o próprio, extraiu as devidas conclusões da declaração de voto proferida pelo deputado do PCP Honório Novo em 16 de Novembro de 2012, no acto de encerramento da Comissão de Inquérito ao Processo de Nacionalização, Gestão e Alienação do Banco Português de Negócios, S.A, registando que ficava de tudo um elevado custo que era levado a défice público, estimado então em cerca de três mil e quinhentos milhões de Euros.

O nó da questão é este. Não sabendo nem podendo justificar, com dados objectivos, porque cai em défice público a capitalização dos negócios privados da elite financeira que usurpou o Estado, as entidades públicas vão lançando fumo e gases tóxicos para cima da verdade.

 

O negócio dos Mirós é apenas mais um negócio trapalhão com que se estende o âmbito e alcança da distribuição do espólio. Seria um negócio mesquinho, que não mereceria tanta parangona nem tanta matreirice, se estivesse confinado aos trinta e seis milhões agora anunciados pela Christie’s.

 

´´Os 13 quadros de Miró foram, segundo o relatório e contas do BIC do ano passado, recebidos pelo BPN "em dação por recuperações de créditos concedidos pelo Banco." Com esta operação, o BPN registou então uma imparidade de 1,5 milhões de euros. Já no início deste ano a Parups chegou a acordo com a Galilei para a regularização dos créditos em dívida ao BPN de quatro sociedades offshore: Karoma, Talcott, Zevin e Ermani, que tinham como último beneficiário a offshore Marazion. E esta, por sua vez, tinha como último beneficiário a antiga SLN. A dívida destas quatro sociedades offshores ao BPN ascendia a óo milhões de euros, segundo o relatório da última comissão de inquérito parlamentar ao BPN. Com a dação de 68 quadros de Miró que estavam na posse dessas quatro offshores, a dívida dessas sociedades ao BPN ficou liquidada.’’

António Sérgio Azenha, Correio da Manhã, 21 de Julho de 2013.

 

António Sérgio Azenha e o Correio da Manhã são as peças de artilharia a soldo dos conjurados. Porque raio de razão vai A S Azenha recolher estes dados do Relatório de Contas do BIC? A que propósito constam no Relatório de Contas do BIC? Será o BIC parceiro da PARVALOREM na venda ou propriedade dos Mirós?

 

Sabe-se através de declarações de Miguel Cadilhe que estavam lançados na contabilidade do BPN, em 2008, cerca de setenta milhões de Euros de despesas com a conservação e manutenção dos Mirós. Seja, mais uma imparidade, porque, pelas estimativas da Christie’s e eventualmente por compromisso contratual, os Mirós não alcançarão em leilão o valor de quarenta milhões.

 

Mas sabe-se também que os administradores de três das ‘’off shores’’ que agora se alegam proprietárias dos Mirós receberam do BPN comissões de quarenta milhões de Euros para venderem no mercado os oitenta ou oitenta e cinco Mirós.

 

Vou aplicar-me, durante esta quadra natalícia, a confrontar contas, declarações e notícias. Para ver se encontro o fio à meada. Ou verificar que nem existe meada.

Então, nessa altura, deixo os documentos.

 

Entretanto, leitor, um bom Natal. E meditemos na Paixão.

 

 

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