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As razões para que, acerca de qualquer assunto, se constitua um mistério são de natureza diversa e nada que têm que ver com as razões porque se narra um mistério. O facto de alguém narrar um mistério não pressupõe, necessariamente, que ele exista. Não é razão nem necessária nem suficiente.

A literatura de mistério tem as suas causas, motivos temas próprios. Os seus elencos narrativos são sempre muito mais enovelados, arteficiosos e inalcançáveis do que os mistérios em si.

 

É o caso da colecção de oitenta e cinco pinturas de Miro acerca da qual já nada sabemos que não seja mera conjectura.

 

Até há cerca de uns dias, quando a Christie’s editou online os catálogos das sessões que realizarão em Londres nos próximos dias 4 e 5 de Fevereiro, o mistério era tão denso que nem se conheciam as obras que compunham a colecção.

 

Agora, tornou-me mais denso. Já sabemos de que obras se trata, mas sabemos que a história que todos quiseram contar era a de que a colecção fora executada a uma sociedade espanhola que as havia dado como garantia sobre um empréstimo concedido pelo BPN.

 

Entretanto, como já referimos, o mistério adensava-se porque não se entendia a razão porque a penhora caíra nas mãos da SLN, que, para fechar um pouco mais o véu, ainda pediu também um empréstimo dando como garantia as pinturas, nunca foi explicado em que circunstâncias.

 

Agora, editados os catálogos da Christie’s, sabe-se que as pinturas saíram da propriedade de uma colecção privada japonesa para a propriedade do Estado português.

Citando:

 

Lote 131.

‘’Provenance

(…)

Private collection, Japan.

Private collection, Lisbon, by whom acquired from the above in 2005.’’

 

Deduz-se então que este lote passou da propriedade de um coleccionador privado japonês para outro em Lisboa. Não se refere qualquer coleccionador ou entidade espanhola. Nem mais do que um proprietário português.

Mas o mais curioso é que esta pintura esteve exposta publicamente após estar executada ao BPN, em Valência, Funació Bancaja, em Março-Junho de 2009.

 

O lote 162, idem. O lote 141 foi exibido em Nova Iorque ente Novembro de 2008 e Janeiro de 2009. Idem para os lotes 142 e 143.

O lote 148 estava em Palermo em Setembro de 2008. Idem para o lote 149. O lote 152 esteve também em Valência em 2009.

O lote 154 esteve em Londres, Tate, em 2011. O lote 454 esteve em Madrid, Thyssen, até Setembro de 2009. O 457 esteve em Valência até Março de 2009.

O lote 461 esteve em Madrid, Thyssen até Setembro de 2009.

 

Bem, estou a tentar seguir o rasto do itinerário das oitenta e cinco obras até conseguir matéria para uma verdadeira novela de mistério.

 

Mas o certo é que segundo as mais bem informadas fontes (citando o Correio da Manhã), elas estavam numa cave do BPN em fins de Setembro de 2008 e daí seguiram em várias camionetas para as instalações de segurança da CULTURGEST.

 

Face a estes novos mistérios levantados pelo catálogos da Christie’s, questionei objectiva e claramente a CULTURGEST, na sua página de Facebook, se a ‘’colecção egípcia’’ se encontra à guarda da CULTURGEST ou se qualquer delas, a ‘’egípcia’’ ou a de Miro alguma vez por lá passou.

 

A resposta não poderia ser mais clara e frontal: ‘’Caro Manuel Castro Nunes, a resposta à sua questão é negativa.’’.

 

Estou a gostar cada vez mais deste tema.

 

A redundância e continuidade do mistério estão garantidas. O sucesso também. No caso BPN nada é mistério nem verdade. É tudo uma novela de mistério escrita com todo o engenho.

Pelo Estado, pela GALILEI, pelos jornais e… por mim!


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