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O lado do Caso BPN que poucos conhecem nos seus trâmites mais profundos, obscurecidos pelos interesses das partes envolvidas. O relevo dado a duas colecções de arte entretanto sem paradeiro, fazendo crer que são motivo de todo o descalabro do caso BPN
Vai acender-se de novo a ira. Todos querem Oliveira e Costa preso. E têm razão.
O desaparecimento de Oliveira e Costa é mesmo o episódio que faltava para manter o caso BPN aceso, uma vez que os juízes reconhecem que é um caso tão complexo que seria necessário mudar a lei para agarrar o fio à meada. Para manter o primeiro caso BPN aceso. Seja, o caso BPN antes da nacionalização.
A ideia que vai ficar para quem um dia reler as actas do primeiro caso BPN, o segundo ainda não nasceu, é a de que, entre a SLN e o BPN reuniram-se os cangaceiros todos do PSD de Portugal e os intervenientes no primeiro caso BPN são os figurões envolvidos nos outros casos todos. O próprio Oliveira e Costa tinha, quando me reuni com ele por causa da ‘’colecção egípcia’’, pendente sobre a alvura da sua camisa o caso Furacão, pelo que alguns colaboradores próximos lhe chamavam o ‘’Fura Gatos’’.
Na verdade, o primeiro caso BPN é um caso quase caricato de negociatas de chicos espertos convencidos de que o seu estatuto os deixaria sempre impunes. E o mais curioso é que deixou. Perceberemos porquê.
Recordo-me de uma conversa que tive com Oliveira e Costa que atesta bem do alcance da sua visão e ilustração.
Inesperadamente, dei conta no decorrer de uma reunião de que tinha no BPN alguém com quem podia debater o conteúdo do relatório referente aos artefactos de ourivesaria que compunham a ‘’colecção egípcia’’.
O objectivo da reunião era debater essa questão, a de saber com fundamento e suporte em quê o BPN levantava subitamente o impeditivo de contestar a genuinidade dos artefactos para resolver o contrato com a execução da penhora.
Como de facto nem o BPN, nem Oliveira e Costa tinham base para alegar, a conversa entrou amena no assunto da mineração do ouro, jazidas, procedimentos de aquisição mineira e procedimentos para o seu lavor.
Oliveira e Costa queria então saber se seria possível trabalhar o ouro dos ‘’bullion’’, lingotes de ouro ‘’puro’’ de 98.9 %, em forja. Se era possível laminá-lo a malho e repuxá-lo em seguida.
Transmiti-lhe a minha opinião, de que não pensava ser possível, porque os procedimentos de consecutiva fusão do ouro de um lingote para o purificar lhe retiravam a ductilidade necessária para o trabalho a malho em forja.
A questão não parecia já muito importante e Oliveira e Costa perdeu-se a transmitir-me umas fórmulas novas que um seu colaborador inventara para purificar o ouro.
De seguida explicou-me a fórmula que acabara de adquirir no Algarve para ganhar o Euromilhões. Não me recordo rigorosamente de quanto Oliveira e Costa pagara pela fórmula. Mas fora muito dinheiro. E rematou:
- Se me saísse o Euromilhões quem comprava isto (a colecção egípcia) era eu.
Eu respondi-lhe:
- Mas foi o Sr. Dr. Já comprou...
- Não fui eu, foi o banco.
O Engenheiro Francisco Sanches que assistia incrédulo à reunião, comentou:
- Nem foi o Sr. Dr. nem o banco, fui eu.
Eu pensei que era uma graça. Como veremos, não era.
O facto é que, nem no decorrer dos processos em curso nem das audições alguém questionou um assunto do conhecimento geral. Porque razão Luís Caprichoso desaparecia subitamente da esfera de Oliveira e Costa e da Presidência do Conselho de Administração e entrava Francisco Sanches, quando o estouro do BPN estava na ordem do dia.
Ora, essa razão é o prenúncio da distinção que o agente que nacionalizou o banco fez das duas entidades e da razão porque o BPN acabou por responder criminalmente pelas dívidas que a SLN contraíra com o BPN. Porque este parece ser o maior mistério. Mas não é.
Adiante. Depois entende-se.
Na verdade, Oliveira e Costa sempre me pareceu um rato encurralado na Presidência do BPN pelos barões da SLN.
Tudo isto vem a propósito de falar em José Roquete. No Verão de 2012 soube-se que José Roquete pedira a insolvência da SAIP, sociedade criada para administrar o Projecto de Roquete para o Alqueva, um retumbante flash de fantasia, que criaria, com recurso ao turismo e lazer, um ‘’ghetto’’ no Portugal da crise e do resgate. Penso que todos conhecem mais ou menos, sempre mais ou menos, o assunto, a mim interessa-me apenas um detalhe:
O incidente que leva Roquete ao pedido de insolvência é a recusa dos parceiros financiadores. Eram a CGD, o BES, o BPI noutras versões e, pasme-se a PARVALOREM.
Mas porque razão estava a PARVALOREM metida no assunto? Porque o capital da SAIP fora crédito do BPN ou da SLN?
Estão a acompanhar o meu raciocínio? A PARVALOREM é a sociedade criada para vender os tóxicos do BPN.
Subitamente, aparece em 2012 como financiador de outro ‘’tóxico’’. A PARVALOREM é um banco. Um banco de investimento com capitais a crédito.
A corrida aos créditos tóxicos do BPN, estacionados na Parvalorem (veículo criado pelo Estado), vai ser renhida. Os créditos estão divididos em quatro lotes, um de ¤2,6 mil milhões, outro de ¤591,9 milhões e mais dois de ¤81 milhões. O que irá pesar nas propostas apresentadas será não apenas o prazo de recuperação mas também a experiência de cada uma das sociedades
(Jornal Expresso)