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O lado do Caso BPN que poucos conhecem nos seus trâmites mais profundos, obscurecidos pelos interesses das partes envolvidas. O relevo dado a duas colecções de arte entretanto sem paradeiro, fazendo crer que são motivo de todo o descalabro do caso BPN
Sou muito irrequieto. Tento que o leitor passe para lá do espelho que lhe montaram diante e consiga observar o que está por trás dele. O espelho transmite-lhe a sensação de que faz parte do cenário e está dentro dele.
Se conseguir passar para trás dele aperceber-se-á, talvez, da realidade que lhe esconderam e identificará, porventura, quem o manobra.
Vou por isso dar uma folga à PARVALOREM e regressar aos senhores arqueólogos que foram o suporte para os congeminadores do plano BPN fazerem crer, durante algum tempo, que o problema BPN consistia em duas burlas de umas centenas de milhões de Euros, uma delas de cinco milhões, em que o BPN fora burlado com obras de arte ‘’falsas’’, com ou sem a cumplicidade de Oliveira e Costa.
Chegou a altura de revelar o que era a ‘’colecção egípcia’’ em todos os seus detalhes.
Esta decisão fundamenta-se mesmo no facto de podermos supor, com base na sequência do que tem sido revelado quer meios ‘’media’’ quer pelas autoridades judiciais, que a ‘’colecção egípcia’’ não tem actualmente paradeiro.
As imagens que revelamos, foram realizadas por Manuel de Castro Nunes e divulgadas através da distribuição de um disco onde se reuniu toda a documentação que acompanhava a colecção em 2005. Estavam na posse do disco, para lá do BPN, o IGESPPAR, o IPMC, a Polícia Judiciária, alguns amigos, poucos, com quem debati o assunto, incluindo um ourives de Lisboa, que o terá disponibilizado a Henrique Correia Braga, ourives também, que procedeu, com mau intuito, à sua divulgação, parcial, duas ou três fotos, num fórum na internet.
Em minha opinião, em 2008, quando o Correio da Manhã divulgou o primeiro repertório de imagens, utilizando as deste acervo, nenhum arqueólogo, que não tivesse tido acesso ao disco através do IGESPPAR, conhecia sequer as imagens da ‘’colecção egípcia’’, excluindo um amigo a quem as mostrei na sede do BPN em 2006.
Ora, que inexplicável impulso empurrou os arqueólogos para se pronunciarem sobre o assunto a ponto de aderirem ao malabarismo transmitido pelos canais de difusão do ‘’complot’’ BPN que apresentava a colecção como uma ‘’colecção de arte egípcia’’?
Se se constatasse que os arqueólogos conheciam estas imagens, mal ficaria a sua imagem.
Todos sabiam que a saga da ‘’colecção egípcia’’ só passaria enquanto o Manuel de Castro Nunes ficasse em silêncio, para não perturbar a serena ponderação de todos os interessados sobre o assunto.
Em 2009, o Manuel de Castro Nunes já tinha difundido entre os arqueólogos os documentos que acompanhavam a colecção, todos os relatórios. Mas sobretudo o documento chave que permitiria entender a lógica da sua apresentação, o texto alojado no Scribd, cuja ligação aqui fica. ‘’Demeter. A Grande Cabra.’’
(...)Em segundo lugar, outro ponto de ordem, para precaver outra ambiguidade. Não pretendemos concluir que o regime amordaçou a deusa. O regime amordaçou outras coisas, em conluio com a arqueologia. O regime que lhe sucedeu continuou a amordaçar as outras coisas, em conluio porventura com a mesma arqueologia. (30)
O que se amordaçou, afinal?
A posse e a propriedade de objectos arqueológicos.
Não pode nesta análise ficar omisso que, no contexto em que reaparece à luz do dia este conjunto de esculturas, irrompe para a madrugada um vasto universo de outros preciosos objectos. Preciosos em vários sentidos, no estrito de grande parte deles serem em ouro, no geral de que todos eles têm um elevado valor cultural e patrimonial. (31)
MCN, ''Demeter, A Grande Cabra.'' Lisboa, 2004.
Espantoso! Nenhum arqueólogo, até ao presente, se referiu a qualquer documento nem à sua existência. Talvez inibidos pelo facto de os ‘’media’’ terem divulgado que estavam três arqueólogos encarregues de emitir um parecer sobre a ‘’colecção egípcia’’.
Embora o parecer não tenha surgido, os senhores arqueólogos continuam a referir-se à colecção como ‘’colecção egípcia’’ ou ‘’tesouro BPN’’.
Como o leitor verificará, o único ‘’tesouro’’ no mundo que apresenta similaridades com o ‘’tesouro BPN’’ é o tesouro do Museu Nacional de Arqueologia. Mas essa óbvia similaridade induziu o MNA a sugerir que os artefactos eram incas.
O tesouro do MNA, se considerarmos a colecção de ourivesaria primitiva, é constituído em 90% por artefactos adquiridos por Leite de Vasconcelos e Manuel Heleno a privados e ourives. Serão ‘’objectos arqueológicos’’?
Qual é então o núcleo do problema que nos perturba passados oito anos?
É que temos razões para supor que a ‘’colecção egípcia’’ pode já andar sem paradeiro, não estar em Portugal e constituir um dos activos que a PARVALOREM contabiliza nas folhas de cálculo, para garantir mais créditos concedidos pela PARVALOREM à SLN, embrulhando sucessivamente o novelo.
Se a ‘’colecção egípcia’ não estivesse sujeita a restrições de transacção, que lhe devem ser impostas por razões patrimoniais, teria no mercado um valor que teria permitido, em nossa opinião, a Cadilhe tapar o buraco em 2008 e evitar a nacionalização do BPN.
Gostaria, com sinceridade, de lançar aos arqueólogos um apelo para que reunissem as suas vozes e exigissem a apresentação pública imediata da ‘’colecção egípcia’’.
Mas que querem? Não consigo superar a suspeita de que o interesse dos arqueólogos é de que a ‘’colecção egípcia’’ desapareça, ou seja reciclada em moeda, para não mais os incomodar.
Já não contam há muito com a minha paciência, os senhores arqueólogos.