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A origem genésica da manha de um procurador da República. A manha do procurador e da polícia é anterior à manha dos arqueólogos.

 

‘’Para Luís Raposo, o parecer de Castro Nunes não tem valor científico, uma vez que não é arqueólogo. "Ele próprio não se considera arqueólogo, mas arqueómano (amigo da arqueologia)", disse ao DN. "Um arqueómano pode dizer o que quiser", frisou.’’

(…)

‘’Em contrapartida, a Cavaleiro Paixão é reconhecido mérito científico, mas Luís Raposo recorda que o arqueólogo sofre actualmente de uma doença degenerativa e que na altura em que emitiu o parecer, em 2006, já as suas faculdades estariam afectadas. "É um arqueólogo com uma carreira longa, mas com uma degradação de saúde que faz que não possamos levar a sério os seus pareceres.’’

Diário de Notícias, 13 de Maio de 2011.

 

Para que o leitor possa puxar o fio desta meada é crucial elaborar uma cronografia do Processo respeitante à venda da ‘’colecção egípcia’’ ao BPN.

Mas inicio o itinerário cronográfico com um comentário sobre este episódio mediático insólito.

O meu comentário vai ser introduzido com algum sarcasmo.

 

Eu, de facto, reconheço que tenho uma imagem que pouco se coaduna com a que se tornara na imagem dos arqueólogos portugueses até que a série do Indiana Jones se consagrasse como a representação mais mediática de ‘’o arqueólogo’’. Não sou gordo, nem meio trôpego, tenho um andar desempoeirado e relativamente ágil e não me atrapalho com um picareto. Nem sou enfezado e ‘’choninhas’’, caracterizando outra tipologia.

Habituei-me a ver os arqueólogos beberem e comerem demais, muito mais do que o seu esforço físico requer. Mal cabem nos buracos.

A verdadeira razão porque os arqueólogos tanto vituperaram a imagem do Indiana Jones foi a de que o seu vigor desempoeirado fazia ressaltar as obesidades dos nossos arqueólogos e arqueólogas, ou o seu ar de ‘’choninhas’’ enfezados. Como os procuradores e os polícias.

Todavia, mesmo carregando este aspecto físico que tanto desagrada aos arqueólogos, não sou burro e conheço-lhes as manhas. Caramba! Toda a minha vida, desde a infância, convivi com as manhas dos arqueólogos.

Em dada altura, para pôr a nu as manhas dos arqueólogos, a sua falta de cultura, a sua má formação cívica, eu escrevi e reitero que não me considerava mais arqueólogo mas arqueómano. O Luís Raposo entendeu claramente o que eu quis dizer quando, no auge de um debate que tinha fundamentalmente que ver com a definição do estatuto de arqueólogo e da crítica sistemática de práticas obscenas a que pretendiam restringir a arqueologia, eu aleguei, por sarcasmo, que não queria mais ser envolvido com o nome de arqueólogo e passava a reclamar o estatuto de arqueómano.

 

Veremos, no desenvolvimento da cronografia que vou apresentar, o que pretende Luís Raposo quando alega que eu não sou arqueólogo.

 

Mas, seja ou não eu arqueólogo, porque razão entende o Luís Raposo que o estudo preliminar e a apresentação da ‘’colecção egípcia’’ ao BPN deveria ter requerido um arqueólogo? É mais do que óbvio, da definição do estatuto de arqueólogo e de ‘’objecto arqueológico’’ , que Luís Raposo perfilha que a arqueologia deles versa e se debruça sobre outras coisas.

O certo é que o Luís Raposo convenceu transmitir, primeiro à Polícia Judiciária depois ao Procurador Jorge Teixeira, que a matéria era arqueológica e que deviam ser os arqueólogos a manifestarem-se sobre ela.

O resultado foi lamentável para a arqueologia e para os arqueólogos, porque agora não poderão desenvencilhar o seu estatuto de práticas tão obscenas, toscas e levianas como os pareceres ‘’engendrados’’ pelos arqueólogos que o Luís Raposo ‘’meteu na alhada’’. Aqueles pareceres são os pareceres dos arqueólogos.

 

Porque o arqueólogo Luís Raposo declara que acerca daquelas ‘’peças’’ não sabe nada, só sabe de calhaus, quem sabe é a Ana Isabel Palma Santos. Mas a Ana Isabel é arqueóloga? É arqueómana?

 

A Polícia Judiciária, no afã de levar o procurador a deduzir, em nome dos arqueólogos, uma acusação, vai deambulando num itinerário sinuoso, entre os arqueólogos e o João Pinto Ribeiro, que, reiteradamente, em várias circunstâncias, vai alegando como seu consultor na matéria, tentando intimidar com o peso institucional da Christie’s e do Correio Velho, de tal forma que por vezes parece que da ‘’colecção egípcia’’ fazia parte um tal retrato equestre de Filipe IV por Diego Velázquez.

 

Com uma certa manha, a PJ conseguiu manter o João Pinto Ribeiro na sombra do processo.

 

Mas, afinal, a matéria da ‘’colecção egípcia’’ era do foro da arqueologia e dos arqueólogos ou do mercado de velharias?

 

Vamos nas próximas notas, através de uma cronografia, tentar entender de onde vem a manha, se do procurador, se da polícia, se dos arqueólogos.

Bem, há sempre uma reserva de credibilidade para não ‘’levarmos a sério’’ o parecer de um arqueólogo. Eu também vou arranjar um atestado médico.

 

Vamos então ao que interessa. Se quiserem, eu calo-me. Na condição de a ‘’colecção egípcia’’ aparecer já e ser classificada.

E não venham com manhas. Não me contento com um despacho do Barreto Xavier a ordenar ou abrir o processo de classificação. Quero vê-la e já!

 

http://vaievem.wordpress.com/2010/08/04/a-promiscuidade-entre-a-justica-e-o-jornalismo-e-um-cancro-da-democracia-as-fugas-de-informacao-de-processos-em-segredo-de-justica-sao-feitas-de-maneira-profissional-criando-cumplicidades-entre-quem/

 

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3667075&seccao=Pedro Tadeu&tag=Opinião - Em Foco

 

 

 Relacionados:

 

A grosseira manha processual de um Procurador da República - Parte I.

A grosseira manha processual de um Procurador da República - Parte II

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Colecção BPN: da soma, da subtracção, da divisão e da multiplicação

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