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O lado do Caso BPN que poucos conhecem nos seus trâmites mais profundos, obscurecidos pelos interesses das partes envolvidas. O relevo dado a duas colecções de arte entretanto sem paradeiro, fazendo crer que são motivo de todo o descalabro do caso BPN
Ao tomar posse como Ministro da Cultura, João Soares anunciou de imediato duas intenções programáticas. Não constituindo por si sequer um esboço de programa, eram sem dúvida a enunciação em esboço de uma intenção. De uma intenção de alterar o ‘’status’’ conjurado que se instalara na cultura que a sua tutela alcançava.
Eu não sou nem nunca fui um adepto nem sequer simpatizante de João Soares. Não condicionado pelos tópicos cretinos que no geral a direita mais cretina alega contra o filho de Mário Soares, os diamantes, coisa e tal, traidor da pátria, tal pai tal filho, vendedor das colónias, xuxa de merda.
A minha distância relativamente a João Soares é ideológica, política e programática. E tem que ver, com certeza, com maneiras de estar na vida.
Ora, as duas primeiras intervenções anunciadas por João Soares foram a substituição de António Lamas como Director do Centro Cultural de Belém e a promoção de um programa de apresentação pública da ‘’colecção Miró’’ alegadamente do BPN, com exposição em Lisboa e no Porto, e a promoção da consequente classificação.
A direita ficou alarmada. Mas conseguiu transferir a sua indignação para a contestação da demissão do Arquitecto António Lamas.
Por parte de João Soares, em meu entender, a demissão do Arquitecto Lamas não tinha especificamente um motivo pessoal. Era a rejeição de um programa de gestão do património cultural que eu também sempre denunciei na generalidade e no propósito, o denominado eixo ‘’Belém-Ajuda’’, uma trampolinice em que se cruzavam alegados interesses patrimoniais e culturais com óbvios interesses de marketing turístico, que não são propriamente do foro e âmbito da promoção e defesa do património cultural.
Para mais, o programa de Lamas excluía a intervenção estruturante de entidades como a Câmara Municipal de Lisboa, sediando o quartel general de decisão no Centro Cultural de Belém e nos conjurados satélites. Era um ‘’lobby’’.
Inesperadamente, os conjurados hipócritas da cultura estatutária portuguesa uniram-se todos para defender o Arquitecto Lamas, mesmo aqueles que criticavam de há muito o programa ‘’eixo Belém-Ajuda’’.
Foi por via da hipocrisia conjurada que a medida programática de João Soares transpareceu para a opinião pública como um insulto pessoal ao excelso, nobre, doutíssimo e magnânimo António Lamas, a expressão acabada da doutrina demo liberal social democrata na gestão do património cultural.
Bem. João Soares demitiu-se. Demitido, ninguém mais contestou o afastamento de António Lamas e o Centro Cultural de Belém segue de vento em popa.
O que ninguém sabe é como a outra intervenção anunciada por João Soares transitou para o actual Ministério e Ministro.
Nunca mais ninguém falou da ‘’colecção Miró’’ do BPN.
Será legítimo que eu suspeite de que a investida conjurada sobre João Soares em defesa do excelso António Lamas tinha como propósito desmantelar a intenção de descobrir a ‘’colecção Miró’’, clarificando muitas questões encobertas e conjuradas, obrigando-a a sair das trevas dos cofres da Caixa Geral de Depósitos.
Penso que, um dia, os afoitos fundamentalistas, conjurados e hipócritas, chamados a pronunciar-se nestas circunstâncias não saberão lidar com a vergonha do que disseram e fizeram.
Será então que as notícias e capas de jornais saírão das gavetas dos arquivos para reaparecerem como fontes da História.