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O lado do Caso BPN que poucos conhecem nos seus trâmites mais profundos, obscurecidos pelos interesses das partes envolvidas. O relevo dado a duas colecções de arte entretanto sem paradeiro, fazendo crer que são motivo de todo o descalabro do caso BPN
'Sentado ao lado do advogado Rui Patrício, o empesário angolano tinha as mãos entrelaçadas em cima da mesa castanha quando o procurador Rosário Teixeira, sentado ao lado da colega Ana Catalão, anunciou para a gravação: (...) Enquanto ouvia o formalismo inicial do início do interrogatório judicial na sala 2 do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa, Bataglia recostou-se por momentos na cadeira e colocou as mãos junto às pernas. Vestia um fato escuro e gravata em tons carregados de azul. De seguida, voltou à posição inicial, mesmo em frente do inspector tributário Paulo Silva.
De fato escuro, pulôver amarelo e gravata castanha, Ricardo Salgado parecia desconfortável na cadeira simples, quase rudimentar, que lhe destinaram na sala 2 do Departamento de Investigação e Acção Penal (DCIAP). (...) Ricardo Salgado ficou em choque. Tirou vários apontamentos numa folha de papel enquanto Rosário Teixeira lia a indiciação. Com os cotovelos assentes na mesa e as mãos entrelaçadas junto à boca, não escondeu o seu desalento. (...)
Que pretenderia, que mensagem nos queria veemente transmitir com esta introdução António José Vilela? Só pode ser uma, em minha opinião e no alcance da minha hermenêutica. António José Vilela assistiu, presencialmente, ou através de algum dispositivo remoto de espionagem, aos interrogatórios de Helder Bataglia e de Ricardo Salgado pelo procurador da República Rosário Teixeira.
Equacionemos a hipótese de António José Vilela ser um mentiroso. E ter não só inventado os pormenores novelescos mas também deturpado e alterado o teor das transcrições dos interrogatórios. Recuso-me sequer a imaginar que, mau grado toda a sua impunidade, o procurador Rosário Teixeira trate um arguido por ''sotor''. Talvez sim. Talvez não. Ora bem. Temos aqui um caso em que um jornalista, António José Vilela, declara, sem apelação, que assistiu, presencialmente ou através de qualquer dispositivo de espionagem remota, ao interrogatório de dois arguidos.
Temos para mais um caso em que nem o procurador citado nem o Ministério Público entenderam ser um preceito elementar e preliminar de decência e de honra vir a público desmentir o jornalista. Vamos supor que a transcrição judicial dos interrogatórios era introduzida, no original, por estes detalhes relativos à mímica e à roupa dos arguidos. Todavia, a Procuradora Ana Catalão, como sujeito processual, é a Procuradora Adjunta do Procurador da República Rosário Teixeira, não é a sua colega. Em linguagem vernácula popular dir-se-ia, com algum sarcasmo e ponderando a ocorrência da intrusão de um jornalista idiota num interrogatório judicial, que ''colegas são as putas''. Bem. O jornalista António José Vilela teve sempre pendor para a chinela e para a espionagem marota. Nem admirava que tivesse conseguido, por portas travessas, um posto e um banquinho ao parapeito do buraco da fechadura da sala número 2 do DCIAP. Mas calma e pára o baile.
É dever do Procurador da República Jorge Rosário Teixeira e do Ministério Público virem publicamente esclarecer se os autos, no que respeita a transcrições de interrogatórios, trazem apensas narrativas que relatam a mímica e a roupa dos arguidos. E, se for o caso, declarar publicamente que António José Vilela é um mentiroso. Será que o Procurador da República Jorge Rosário Teixeira ainda não entendeu que estas histórias de faca na liga comprometem irremediavelmente a sua reputação?