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O lado do Caso BPN que poucos conhecem nos seus trâmites mais profundos, obscurecidos pelos interesses das partes envolvidas. O relevo dado a duas colecções de arte entretanto sem paradeiro, fazendo crer que são motivo de todo o descalabro do caso BPN
Tinha então deixado a minha narrativa no ponto em que recolhi, em casa do poeta Joaquim Pessoa e em Março de 2002, a colecção de objectos arqueológicos que o Senhor João Estrada lhe adquirira.
Notei também que a colecção foi recolhida com a minha assistência e nessa altura porque tanto o Joaquim Pessoa como o Senhor João Estrada, de acordo com o que haviam concordado, aguardavam que algumas instituições, sobretudo museus, decidissem se teriam ou não capacidade para a adquirir, no todo ou em parte.
Quando fui então e nessa data mobilizado estava já decidido que a colecção pertencia integralmente ao Senhor João Estrada.
Devo notar, para ulterior desenvolvimento, que, nesse dia, em que eu ainda nem sabia bem ao que ia, ia ver uma colecção, já alguém sabia que eu a ia ver e com que objectivo.
Alguém que pôde transmitir um recado a uma pessoa amiga comum, alertando-me para que a colecção em análise fora ‘’desviada’’ de um museu. Quem mandava transmitir-me esse recado parecia convicto de que dissuadiria assim, através de mim, o Senhor João Estrada a adquirir a colecção.
Todavia, para lá de o Senhor João Estrada já a ter adquirido, o meu amigo, ou amigo do meu amigo, não conseguiu antecipar o meu raciocínio.
Vejamos se o leitor, se anda não o antecipou, conseguirá entendê-lo.
Se a colecção fora ‘’desviada’’ daquele museu, tal obrigava a constatar não apenas a autenticidade dos objectos mas ainda as referências de procedência, ou proveniência que lhes vinha assinalada e referida em verbetes de identificação sumária. Porque só tendo aquela proveniência os objectos poderiam, no todo ou em parte, proceder daquele museu. O amigo do meu amigo não conseguiu antecipar este raciocínio.
De modo que eu transmiti com toda a diligência e urgência possível essa informação ao Senhor João Estrada, sabendo que poderia antecipar qual seria a sua reacção.
O Senhor João Estrada sugeriu-me de imediato que procurasse o meu amigo ou o seu amigo e lhe comunicasse que estava na disposição de devolver todos os objectos que comprovadamente procedessem do seu museu. E que tal era afinal coerente com o propósito da Fundação que instituíra, a FEPPHA.
Assim fiz. Com súbito alarme foi-me então comunicado que tal seria tragicamente inoportuno, uma vez que o alegado ‘’desvio’’ fora ‘’abafado’’. ‘’Abafado’’ foi rigorosamente o termo utilizado.
Ora bem, para mim, que também suspeitara desde logo da história do "desvio" e "abafo", passou a ser a partir de então irrelevante saber se a colecção provinha daquele museu, por ‘’abafo’’ ou outra contingência. Trata-se do tipo de trapalhadas e histórias rocambolescas a que os arqueólogos recorrem nas suas guerrilhas por um lugar à sombra, com o punhal sempre nas costas do vizinho, como aqueles colaboradores do Oliveira e Costa que se manifestam agora irados e encolerizados contra o seu alegado patrono. E assim sendo reforcei todas as minhas convicções e deduções. A colecção não procedia daquele museu de onde fora alegadamente ‘’abafada’’ mas bem poderia proceder, a não ser que o amigo do meu amigo fosse cretino ao ponto de me querer convencer e ao Senhor João Estrada que uma colecção de objectos arqueológicos egípcios ou aztecas poderia provir de um museu estremenho.
Uma coisa é certa. Ninguém alegou então que os objectos eram ‘’falsos’’. Alegaram que eram ‘’abafados’’.
Há circunstâncias em que os arqueólogos preferem por a circular a ideia de que os objectos foram ‘’abafados’’. Outras em que preferem por a circular que são falsos.
Esta última opção é uma opção radical. Tem que ser consensual que a matéria é tão incómoda que tem desaparecer a todo o custo para a exterminar com o veredicto de ‘’falso’’. Porque então a matéria deixa de ser arqueológica, é lata. E desta forma esperar-se-ia que os arqueólogos recolhessem aos seus assuntos e deixassem a lata.
Mas não. Ficam tão incomodados por ter aparecido lata que nunca mais se calam.
Como dizia, então, durante os anos de 2002, 2003 e 2004 estive quase em permanência em Abrantes, procedendo à instalação das colecções do Senhor João Estrada no espaço museológico por mim projectado e ao respectivo inventário. Continuei, todavia, a colaborar com o Senhor João Estrada e com a sua fundação em todos os domínios para que fui requerido.
No ano de 2005 eu tinha concluído o inventário e conhecia cada objecto e o episódio da sua aquisição. Os objectos adquiridos ao poeta Joaquim Pessoa podem agora ser todos identificados porque o foram rigorosamente em sede de inventário.
Importa então desde já deixar claro um assunto.
Pessoalmente, como já assinalei insistentemente, eu não estou interessado em lesar quem quer que seja. Nem em personalizar assuntos.
Na maioria dos casos, mantenho e reservo num certo recato os episódios e assuntos que possam gratuitamente causar dano ao bem estar de alguém. Tenho-me mantido num circunspecto silêncio. E assim continuarei.
Mas, todavia, se por um lado tenho o dever de defender a minha reputação, tenho para mais o dever de defender a reputação de uma colecção de artefactos de arte ou arqueologia que desapareceu. E isso é que não!
Desaparecer uma colecção a que atribuí e atribuo um valor cultural único sem que ninguém sobre o assunto tivesse pronunciado um juízo fundamentado? Sem que algum arqueólogo a tivesse visto e o venha atestar? Isso não!
E qualquer arqueólogo que insista em exterminar desta forma qualquer das colecções, a da Fundação Ernesto Lourenço Estrada & Filhos ou a do BPN, só pode estar de má fé, prosseguindo um qualquer propósito velhaco e esconso. Enfim, um biltre.
Vamos então tentar entender como os arqueólogos que alegavam em 2002 que a colecção que o Senhor João Estrada adquirira ao poeta Joaquim Pessoa fora ‘’abafada’’ num dado museu se tornaram em 2008 curadores da colecção da Fundação Ernesto Lourenço Estrada & Filhos.
Por este caminho vamos entender as razões porque todos se tornaram cúmplices na perda de paradeiro da colecção BPN.
E as razões porque as manobras se vão multiplicar para impedir que alguma vez consigamos ver o fundo do leito do lodaçal.
Quase me apetece antecipar aqui uma proposta.
Querem que eu pare? Apresentem-se com a ‘’colecção egípcia’’ só para eu demonstrar que a colecção Miró nunca por cá morou.
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